vhs-parceiros-da-noite-alpacino-raro-suspense-legendado-690-mlb4703398325_072013-oParceiros da Noite foi lançado no Brasil pelo selo da Warner, e recentemente ganhou um lançamento em DVD pela Lume – nunca encontrei. Na televisão aberta não encontrei registros de sua “passagem” – o que não é nenhuma surpresa tratando-se do filme que é.

Sinopse: O policial Steve Burns (Al Pacino) foi destacado para investigar uma série de assassinatos de homossexuais em Nova York. Com a intenção de crescer dentro da corporação, aceita o desafio de se passar por gay, sabendo que terá que frequentar a comunidade e mergulhar nos clubes de sadomasoquismo. Só não sabia que a sua caçada ao maníaco poderia ser longa e que ninguém sai normal de uma experiência tão brutal como esta. (adoro cinema)

Hoje, quando você acessa informações sobre ele, fácil é encontrar referências como “clássico incompreendido” ou “obra a frente de seu tempo”. Não se iludam. Continua o mesmo filme rasteiro, caricato e, de certa forma, ingênuo naquilo que quer mostrar – nem mesmo qualquer tipo de qualidade da direção pode ser destacado, pois o que temos é algo mais puxado pra um telefilme do que cinema, propriamente dito.

Não vamos esquecer, William Friedkin, o diretor, é o mesmo sujeito que revolucionou o jeito de fazer filme policial em Hollywood com Operação França (1971) e também dividiu o terror em antes e depoisde O Exorcista (1973). Ou seja, alguém de quem se esperava um filme, pelo menos, razoável. Mas nada é razoável ali, nada.

Ao mostrar o universo dos clubes sado masoquistas gays de Nova York, o que ele consegue é apelar para o que há de mais clichê, percebendo apenas esse aspecto do exagero, do choque pelo simples ato de chocar, como se todos ali presentes (em cena) cumprissem papéis que, na verdade, seriam esteriotipos ambulantes. Parecem pessoas, no fundo dão caricaturas.

Claro, vamos contextualizar: início dos anos 1980, visual diferente, vida urbana diferente – recém ensaiando uma violência homofóbica que chegava junto com a AIDS – forma de conduzir uma narrativa de cinema, igualmente, diferente. Friedkin sempre optou por filmar críticas sociais, ou pelo menos, expor mazelas da vida urbana moderna. Operação França é isso na veia, e os filmes que antecedem seus clássicos, igualmente.

Porém, o que ele conseguiu, no máximo, foi deixar uma sombra de preconceito ainda maior. E essa é a crítica da época ao filme, que, na minha opinião, deveria permanecer – ao contrário dessa conversa fiada de “clássico incompreendido”. Ao elevar a escolha sexual ao nível da caricatura tão somente, ele reveste a sua crítica de um preconceito atemporal.

Al Pacino já dá sinais claros do overacting que nunca mais o abandonaria. Tenta de todas as formas “incorporar” o personagem, mas o que alcança é uma atuação na beirada do ridículo. É impossível não rir nos momentos em que ele quer mostrar para o espectador uma espécie de conflito de sexualidade que lhe abate quando começa a frequentar esses clubes. Surge uma cara de “… estou em conflito, estão vendo? Olha minha cara…”.

Um filme que merecia o mesmo lugar em que deveria estar quando lançado: para esquecer de tão bisonho que é.

Uma curiosidade é a participação de Egberto Gismonti na trilha sonora da película. Ao rolar os créditos, grande foi a minha surpresa quando surge o seu nome. Egberto trabalhou junto, e aí conheceu, Fran Zappa, que também participou da trilha. Segundo o músico brasileiro, essa trilha foi mal utilizada, e inclusive entrou com um processo contra o diretor pela descaracterização do trabalho encomendado. Perdeu o processo.

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